Com produção recorde de mais de 944 mil toneladas de lítio em 2024 – o que corresponde a quase quatro vezes o volume registrado em 2023 (263 mil toneladas) – os municípios do Vale do Jequitinhonha e do Norte de Minas vêm passando por uma virada no contexto econômico regional. Mais oportunidades de emprego e um ambiente de negócios competitivo e movimentado marcam esse novo momento.

Além disso, o semiárido mineiro também se consolida como expoente em um movimento global de mitigação das mudanças climáticas, já que se trata de um mineral estratégico para a transição energética.

Os dados mais recentes divulgados pela Agência Nacional de Mineração (ANM) refletem o avanço da cadeia produtiva na região, impulsionado pelo Programa Vale do Lítio. Lançada em 2023 pelo Governo de Minas , por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG) , a iniciativa já atraiu R$ 6,3 bilhões em investimentos e projeta a criação de quase 5 mil empregos diretos.
 

Atualmente, o estado abriga a única planta química nacional de compostos de lítio, operada pela Companhia Brasileira de Lítio (CBL), localizada em Divisa Alegre. O diretor-presidente da CBL, Vinícius Alvarenga, destaca a rápida expansão da produção e ressalta a importância das ações do Estado para superar entraves.

“Desde 2021, a CBL ampliou sua produção em cinco vezes e planeja dobrá-la nos próximos dois anos. O principal desafio tem sido a falta de mão de obra qualificada, mas vemos o apoio de programas valiosíssimos para formação técnica básica”, declara Vinícius Alvarenga.

Além da qualificação profissional, por meio do Trilhas de Futuro e do Minas Forma, o governo estadual tem adotado medidas estratégicas para estimular a industrialização do lítio. Esse é o caso dos benefícios fiscais, por meio da Secretaria de Estado de Fazenda (SEF), para o beneficiamento químico que gera o carbonato e hidróxido de lítio, recursos essenciais na cadeia global de baterias.
 

Transformação

“Para mim é muito mais do que um sonho. Exatamente pela minha formação, jamais imaginei voltar para cá. Hoje não me vejo fora da minha região. Só fui para Belo Horizonte porque realmente não tínhamos oportunidade de estudar aqui.” O relato é de Isabela Guedes Otoni, engenheira química da Sigma Lithium desde 2021. A profissional nasceu em Araçuaí e, após estudar e projetar a vida na capital, conseguiu a primeira oportunidade justamente em sua cidade natal.

Os impactos do Programa Vale do Lítio refletem de forma expressiva no mercado de trabalho, especialmente nos municípios de Araçuaí e Itinga. Em Araçuaí, o número de trabalhadores formais na indústria mais que dobrou, passando de 312 em 2020 para 728 em 2024, avanço impulsionado diretamente pela atividade mineral.

Itinga seguiu trajetória semelhante. Em 2023, o número de empregos formais na indústria, especialmente na mineração, aumentou 100,9% em relação ao ano anterior, totalizando 722 postos.

Há três anos na Sigma, Thauana Rodrigues, de 28 anos, é a primeira mulher a ocupar a função de lubrificadora industrial da empresa. Ela conta que o emprego foi a realização de um projeto familiar.

“Fui criada na Comunidade Rural Barra da Barriguda e em Araçuaí não tinha trabalho. Quando meu pai se acidentou, precisei ajudar minha mãe no sustento da casa. Me formei em Gestão Ambiental e consegui meu emprego na Sigma, realizando um sonho do meu pai, que era de eu estudar e trabalhar”, conta Thauana.