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Apartheid Digital: IA pode catalisar a exclusão no Brasil

A exclusão digital no Brasil vai além do acesso a dispositivos e conexão: é um fenômeno profundo que ameaça a coesão social e a competitividade do ...

08/10/2025 às 13h21
Por: Cidade na Rede Fonte: Agência Dino
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Imagem criada por IA (Gemini - Google)
Imagem criada por IA (Gemini - Google)

A exclusão digital no Brasil deixou de ser apenas uma questão de acesso a dispositivos ou conexão. Especialistas alertam que se trata de um fenômeno mais profundo, comprometendo a coesão social e a capacidade do país de competir em uma economia global orientada por dados e inteligência artificial. Dimitri de Melo, CMO do Grupo Partage e professor da Fundação Dom Cabral, alerta que o país já vive os primeiros sinais de um verdadeiro “apartheid digital”.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil ainda tem cerca de 9 milhões de pessoas analfabetas – cidadãos que não sabem ler nem escrever. Mais grave, aproximadamente 38 milhões são analfabetos funcionais, ou seja, apesar de terem frequentado a escola, não conseguem interpretar um texto simples ou resolver operações matemáticas básicas. Em outras palavras, três em cada dez brasileiros não possuem as competências mínimas para participar plenamente da vida econômica, cultural e política. Somando a esses números os milhões de brasileiros que nunca acessaram a internet ou que dispõem de acesso extremamente precário, o cenário é o de um país profundamente dividido pelo conhecimento. De um lado, uma parcela integrada ao ecossistema digital; de outro, uma massa de cidadãos praticamente à margem do século XXI. “Se não conseguimos garantir que as pessoas compreendam e interpretem um texto, como poderão se beneficiar de ferramentas baseadas em linguagem natural, como a inteligência artificial?” – questiona Dimitri de Melo.

A popularização da inteligência artificial (IA) é, ao mesmo tempo, promessa e alerta. Estudos já colocam o Brasil entre os países que mais utilizam ferramentas como o ChatGPT. No entanto, há uma diferença fundamental entre usar e entender. Muitos brasileiros interagem diariamente com algoritmos sem ter clareza de como eles funcionam, quais são seus impactos e de que forma podem influenciar suas vidas. Esse hiato fica evidente em pesquisas recentes: enquanto 93% dos brasileiros já utilizam alguma ferramenta de IA, quase metade da população não compreende plenamente o conceito de inteligência artificial. Essa lacuna de compreensão gera uma nova categoria de vulnerabilidade digital. Dimitri de Melo denomina esses excluídos do conhecimento tecnológico de “excluídos algorítmicos”. Esses cidadãos, explica ele, “vivem em meio a sistemas que decidem se terão crédito, emprego, acesso a serviços públicos ou informações relevantes, mas não possuem instrumentos para questionar ou compreender tais decisões. É como habitar um país governado por uma língua estrangeira que você não domina: você até existe dentro dela, mas não participa de fato”, resume o especialista.

Os efeitos da exclusão digital não se limitam à esfera individual – repercutem diretamente na competitividade nacional. Especialistas alertam que deixar uma parcela significativa da população para trás reflete-se em menor produtividade, aumento das desigualdades e riscos crescentes de instabilidade social. Para o Brasil, não investir em educação e letramento digital significa abrir mão de oportunidades econômicas valiosas e reforçar um ciclo vicioso de exclusão. “Deixar milhões de brasileiros sem acesso ao conhecimento básico sobre tecnologia é sabotar a si mesmo como nação. Cada cidadão excluído representa não apenas uma vida limitada, mas também uma oportunidade de crescimento desperdiçada para o país inteiro”, destaca Dimitri de Melo.

Educação como caminho para a inclusão digital

Especialistas são unânimes em apontar a educação como o único caminhocapaz de reverter esse quadro. Mas não se trata da educação tradicional nos moldes de sempre: o desafio exige uma abordagem integrada, envolvendo políticas públicas, setor privado e sociedade civil. Entre as medidas necessárias estão:

Um exemplo prático citado por Dimitri é o projeto IA PARA TODOS – AI MASTERS, que oferece capacitação gratuita em inteligência artificial para professores da rede pública de ensino. A iniciativa funciona como um multiplicador: ao preparar o educador, o conhecimento se dissemina para centenas de estudantes e, por extensão, para comunidades inteiras. “A lógica é simples: o professor preparado não apenas domina novas ferramentas, mas também transforma sua sala de aula em um polo de disseminação de cultura digital”, explica Dimitri. Esse efeito cascata gera impacto em escala e ajuda a reduzir o fosso que separa os incluídos dos excluídos digitais.

O debate está longe de ser exclusivo do Brasil. A Organização das Nações Unidas (ONU) já destacou, por meio do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 – Educação de Qualidade, que não haverá progresso sustentável sem educação inclusiva e adequada ao século XXI. Dentro desse contexto global, especialistas defendem que o Brasil precisa agir com urgência. O risco, caso contrário, é aprofundar um fosso cognitivo que comprometerá não apenas a vida de milhões de cidadãos, mas também a posição estratégica do país no cenário mundial.

O risco de um apartheid digital brasileiro não é inevitável. Ele pode ser combatido com políticas públicas consistentes, engajamento do setor privado e iniciativas da sociedade civil – mas é preciso agir agora, antes que o fosso se torne irreversível. Dimitri de Melo sintetiza a urgência do momento em suas palavras finais: “O Brasil só será protagonista da era digital se investir imediatamente em inclusão cognitiva e tecnológica. É um imperativo de sobrevivência econômica e social”.

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